Explicando as Evas
Sempre pensei em
escrever sobre as mulheres da Bíblia, embora nunca tenha pensado nisso sob o
ponto de vista religioso. Mas eu as pensava como as educadoras, as sábias, as
legisladoras, as médicas, as sacerdotisas, as guerreiras, as cuidadoras que
foram relegadas pelo afã de algumas sociedades e religiões em adotarem o poder
masculino como único e inquestionável, quase que apenas pela questão biológica
levando em conta o hormônio masculino - a testosterona - principal responsável
pela agressividade num sentido mais amplo.
Claro que não é meu
objetivo neste livro entrar pela ciência porque não me debrucei nas teorias
para me meter a escrever sobre a progesterona das Evas, mesmo sabendo que esse
hormônio feminino as torna mais sentimentais, mais contemporizadoras,mais
macias, mais Elas.Também não é meu objetivo polemizar com segmentos religiosos
ou propor rasgar sutians nas praças.
O que eu imaginava mesmo
era dar voz a quem foi tirada a vez de falar, de defender-se num universo onde
o masculino imperava e não reconhecia o poder do feminino. Sabemos que em
algumas poucas culturas antigas as mulheres eram respeitadas e consideradas
seres indispensáveis para a que a organização dos grupos sociais pudesse ser
mantida. Então, quando me percebi como ser pensante, algo me cutucava a
observar mais como as mulheres eram tratadas, não só nos textos gerais
sagrados, mas em particular nos textos bíblicos que justificava a subordinação
das mulheres aos homens. As culpadas por isto ou aquilo, as pecadoras, etc. É
só dar uma lidinha sobre as mulheres celtas para ver como elas foram derrotadas
pelo cristianismo. É só prestar atenção como ainda, nestes ditos novos tempos,
o tratamento a elas funciona.
Desde sempre, portanto, motivos foram criados para justificar a opressão
das Evas, embora elas sejam permanentemente fontes de inspiração, porém
obrigadas a permanecerem guardadas em seus silêncios. Eu ficava indignada
quando lia sobre as histórias femininas apresentadas. Elas silenciavam porque
assim deveria ser. No entanto, dentro de mim, elas se explicavam, muitas vezes
gritando por socorro. Então, escolhi as que mais me chamaram atenção e resolvi
ouvi-las e emprestar-lhes a minha voz de mulher de século XXI: as Evas que, no
meu modo de sentir, sempre deram um jeito de trilhar dentro e fora dos jardins
corajosamente. Daí nunca terem perdido o famoso lugar de donas do Éden.
Vejam: A mulher de Lot teve nome? O que fez
mesmo a mulher de Putifar? Lilith foi banida; Eva tornou-se maldita; Maria, a
serva submissa do Senhor; Madalena, aquela que dava a todo o mundo; Betsabá, a
que nos deu os Cânticos de Salomão, Jezabel... Por aí vai!
De alguma forma, portanto, em todos os poemas, estamos nós. Evas! Essas
mulheres maravilhosas que alguns – equivocadamente - pensam que as direcionam,
mas, em verdade, o livro e o livre-arbítrio sempre será delas porque na medida
em que as liberto é provável me liberte também ao expor corajosamente
alegrias, tristezas, dores, dúvidas, esperanças, reflexões e, acima de tudo,
amando mais do que desamando.
Sugiro que leiam com
seus “Adãos”, afinal preconceito em poesia não existe.
Boa viagem e boa
leitura!
Neuzamaria
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