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Amante das mágicas de Aladim.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

MOTIVO PARA ESCREVER

TERAPEUTICA DO PERDÃO

Perdoar não é necessariamente esquecer,
mas valorizar menos a ofensa sofrida.
Perdoar é o ato mais corajoso do ser humano. É basicamente disso que Aloísio Silva* nos fala no seu livro com abordagem Espírita, Terapêutica do Perdão, recentemente publicado pela Editora Solidum (2011). O livro, dividido em 23 pequenos e profundos capítulos, 112 páginas, é escrito como quem conversa mineiramente com o leitor, usando palavras simples e pequenas histórias que ilustram sobre o ato de perdoar. Como bom professor – vocação e profissão – didaticamente o autor nos leva a reflexões muito pertinentes para esta época em que estamos vivendo onde a tônica parece ser pregar muito e praticar pouco ou diferente.
Prega-se a paz, mas promove-se a confusão; prega-se a importância da verdade, mas vive-se na mentira; prega-se a liberdade, mas aprisiona-se o libertador; prega-se o amor, mas esconde-se o coração; prega-se o perdão, mas promove-se a injustiça. A lista vai ficando extensa sobre o falar e o agir, por isso é razoável questionar: por que temos coragem de odiar, de enganar, de sabotar a nós mesmos e aos outros, e não temos coragem de Amar que nos traz saúde, paz e alegrias?
É muito difícil admitir ou entender que viver com a ausência do perdão é adoecedor na medida em que mágoas são cultivadas como se fossem tesouros os quais, em verdade, são feridas que sangram para dentro e não sabemos como estancar essa espécie de “hemorragia” que vai minando todas as nossas defesas. Portanto, quando não perdoamos, além de adoecermos o físico, comprometemos o espírito que carregará determinadas máculas por sucessivas encarnações.
Qual seria a terapêutica do perdão? Antes de tudo é o autoconhecimento, posto que quem busca se conhecer possui boa dose de confiança, em primeiro lugar no Pai e depois em si próprio. No capítulo 10 – Noites Traiçoeiras – Aloísio Silva ilustra com uma história simples e interessante: num cruzeiro o navio é assaltado por uma tempestade e há um corre-corre entre os passageiros apavorados, mas um garotinho permaneceu calmamente brincando som seus soldadinhos de chumbo. Alguém lhe pergunta se não estava assustado, ao que o garoto responde: “meu pai é o comandante do navio e eu confio no comando dele”. Então o autor continua a sua lição, lembrando que, embora escolhamos os nossos caminhos, há o Comandante Jesus de quem não podemos esquecer a proteção. No entanto é bom deixar claro que o autor não prega que devamos ser negligentes, e nos leva a viajar para o capítulo seguinte, quando aborda sobre os níveis da consciência, citando estudos do filosofo Gourdieff, e o nosso despertar pessoal para a Consciência Cósmica.
A terapêutica do perdão nos oferece a possibilidade de concluir que o perdão, como um dos atributos do Amor Incondicional, nos desprende de quem nos ofende ao mesmo tempo em que nos confere a liberdade de ser quem realmente somos, ou seja, seres divinos encarnados neste planeta para os aprendizados necessários à evolução espiritual plena.
Este livro não dá a fórmula mágica para a cura da nossa alma, mas nos aponta alguns caminhos para, pelo menos, começarmos a pensar na necessidade de nos perdoarmos e aos outros a fim de que recuperemos o “estado da graça” que é a cura definitiva das nossas feridas.

*Brevemente seremos brindados pelo novo livro - Por Entre as Dores - desse escritor e palestrante espírita.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

DIA DE SRI AUROBINDO

Dedicado a Beinho (Hildegardo Rosa) e Martha Anísia)

Não poderia deixar passar em branco o dia de hoje, 05 de dezembro. Os hinduistas homenageiam Sri Aurobindo, mestre espiritual na India e em todas as partes do mundo onde pessoas conheceram, um mínimo, sobre os espíritos iluminados que aquela terra produziu. 

Nasceu em Calcutá e viajou para o céu em em Pondicherry, 5 de dezembro em 1950. Homem muito instruído, envolvido com questões políticas, principalmente com o sonho  de libertação da India. Por isso foi preso pelos dominadores ingleses. No entanto, com nossa visão meramente terrena, ser preso é uma coisa ruim. E é. Mas para outros uma situação ruim pode representar  uma grande virada na vida.

Na prisão Sri Aurobindo vivenciou  experiências espirituais que o fizeram trilhar novos caminhos que o levaram a entender com profundidade qual a verdadeira liberdade do  ser humano. Foi solto e  libertou-se de questões meramente políticas e materiais, posto que a liberdade está além, muito além dos nossos entendimentos terrenos.

"Eu aspiro, procuro curar minhas imperfeições, faço o melhor, mas para o resultado coloco-me inteiramente nas mãos do Divino".

A partir das meditações e estudos ele entende e começa a demonstrar que o homem precisa modificar-se para que possa alcançar a transcendência espiritual no dia a dia, pois a essência psíquica de cada um é a marca da Centelha Divina emissora da luz que clareia a consciência, sede das intuições. Este filósofo e educador sempre valorizou muito mais a intuição do que a razão, visto que a intuição é mais abrangente que o racional por estar em conexão permanente com a realidade cósmica.

http://sreeforyou.blogspot.com/2010/01/sri-aurobindo-international-centre-of.html
Junto de sua discípula, companheira espiritual, Mirra Alfassa - A Mãe -, desenvolveu uma filosofia integral, estruturada na crença de que a poderosa consciência divina deve ser transportada ao universo psíquico, ao organismo e à existência cotidiana a fim de que o ser humano possa se converter em co-criador do aprimoramento espiritual.
 
Tomei conhecimento sobre Sri Aurobindo em 1971 pelo Prof. Rolf Galewski (UFBA), alemão naturalizado brasileiro, que desenvolvia uma proposta educacional na perspectiva da autopercepção, autoeducação e educação dos outros a partir dos ensinamentos de Sri Aurobindo e d'A Mãe.
Rolf fundou a Casa Sri Aurobindo, em Salvador e em outras cidades brasileiras. Somente anos depois comecei a ler os livros de Aurobindo, incentivada pelos amigos Martha Anísia e Beinho (Hildegardo Rosa - filósofo, advogado e poeta).
Finalizo com um pequeno texto do Mestre Aurobindo:
"Aquilo que no alto reluz espera, obscuro, aqui em nós: Êxtase ainda não alcançado é direito de nascença de nosso futuro.
 A beleza cresce, enamorada de nossas almas.
Somos herdeiros de vastidões infinitas. O impossível é nossa máscara de cisas que estão por vir.
O mortal é a porta para a imortalidade".
 



sexta-feira, 18 de novembro de 2011

MADALENA DA AMAZÔNIA







Algumas pessoas dizem que no mato nada acontece. Engano. Acontece até mais coisa do que imaginamos, desde o sobrenatural até a natural paixão. Onde houver o elemento humano coisas acontecem. Tanto faz no centro de Nova Iorque como no meio do mato.

Conheci Madalena que vive na boca da Floresta Amazônica. Me contou a sua história e  disse que eu poderia escrever e ainda "botar" o nome dela e o nome do "santo monge", de tanta que era a verdade que me falava. Poupei o monge. É uma   hstória comum que pode acontecer em qualquer lugar.


É... professora, to descaximbada de paxão. Choro dia e note, mana. Foi o boto, Madalena? - pergunto. Não sinhora, foi o monge. Monge?!... - exclamo cheia de perplexidade - como assim? Ela, toda simples: eu tava aqui no meio desse mundão verde e ele chegou quetinho feito aparição. Bunito que só Jesus! Um brilho istranho no oio... fala macio e diz tanta coisa de ganhar mulher  igual as cantiga de  Leandro e Leonardo.
- O monge estava lhe dando cantada, Madalena?
- Não, professora, ele falava igual pra todo mundo. Mas ele me oiava lá dentro...
- Lhe olhava na sua cabana?
- Não, oiava la dentro do meu oio e eu cumeçava a tremer nas mão, nos pé, tudo virava uma tremedera só. Todo o dia assim.
- Ele passava a mão em você? (eu já quis imaginar que o danadinho estava se aproveitando).
- Não. Não é isso qui a sinhora ta pensano. Mas ele me abraça muito, mas abraça todo mundo. Home, véio, novo, aleijão... Qui nem as história de Jesus. Mas cumigo tem um negoço diferente. Nunca fiquei dentro de um abraço tão longo. Ninguém nunca me abraçou assim. tem gente que já reparou. Mas nunca tirô ozadia. Ele é santo, home direito e fala tão sincero. A sinhora intende?
- Entendo... (gente, eu juro que entendi mesmo).

- Então eu disse muito obrigada a Deus que mi mandou um home direito. Quando ele vem di tardinha, eu lavo os pé dele, faço café, tapioca com côco... ele gosta, fecha os ois e abre os braço. Mi da uma vontadi de bejá ele bem na boca, mas eu tenho medo de botá o santo pra durmi e dispertá o home. Sou vige e vai que eu to inganada sobre as intenção dele comigo? E se ele sumisse depois da minha declaração?... Intão, quando me da vontade de bejá eu canto e ele ri com a boca, os oio, o coração. Parece até qui ele quiria... Mas cadê a minha certeza? Um dia resolvi dizê que amava. Ele disse: - muito bom, Madalena. Daí eu passei a dizê todo dia e ele fica mais feliz porque ri interinho.
- A sinhora acha que ele me quer?

Meu Deus, que pergunta desgraçada! O que eu vou responder pra essa criatura toda cheia de paixão? Tão bonita, tão grata, tão generosa com o monge...

- Vou pensar... Acho até que preciso conhecer o monge primeiro. Onde ele está agora?
- La pras bandas de Guajará-mirim fazenu reza de meditá e falanu pro povo. Deve de chegá hoje cum o final do sol.

Gente, eu tinha que responder alguma coisa, mas não tinha a resposta. Quando o conheci, meu coração disparou e quase (?) me apaixono também. Esse é o homem que toda mulher deseja. Meu Deus! "Ecce Homo"!  Mas tive a forte intuição de que o monge estava realmente impressionado com tudo em Madalena. Adiei a resposta por mais um dia e resolvi escrever para duas amigas: Milene Sarquissiano (RS) e para Ana Rita Ferraz (BA). Descrevi o monge. As fiz mergulhar na história, elas   se comoveram, mas responderam assim:


VIRGEM TERNO
Milene Sarquissiano -
www.milenesarkis.blogspot.com


Bendigo teu nome, todo dia e toda hora
Como se imaculado santo fosses
e eu, beata de ti,
crucificada a fazer-te rosário de orações.

Furto de ti todas as chagas, de todas as vidas
Apoderando-me de teus infortúnios todos
E curo-te com a minha espantosa bondade.

Velo teus passos enquanto me faço caminho
Por onde teus pés nus e sôfregos, peregrinam.

E te espero feito sina, no final do calvário,
Com as mãos sangrando e o olhar sagrado,

Onde virgem terno, eterno irás repousar.
Em seguida recebo de Ana Rita um poema de Armando Freitas Filho (RJ):
A felicidade pode ser de carne
  de pele apenas - corpo sem cara
  nem cabeça, mas com a boca máxima
  e muitos braços, peitos, coxa
  perna musculosa, clavícula
  omoplata, ventre liso esticado
  peludo no lugar certo do sexo
  e mais o cheiro preciso, exasperado
  da axila, virilha, pé
  tudo chegando junto, de uma vez
  ou aos poucos, esquartejado.

Continuo sem a resposta para a pobre da Madalena, mas escrevi assim:

MADALENA

Do poço de Jacó
no meu cântaro-corpo
em vez de bálsamo trago a líquida imagem
dos quereres do mundo.
 Na sexta hora do dia
hora ausente das sombras
havidas em Samaria
pressinto tuas pisadas caminhantes
sobre os meus desejos.
Do meu vaso de alabastro
deixo verter lágrimas de cheiro
deixo verter águas de água
para alívio das minhas sedes
desapaziguadas
na espera do teu olhar.

Passas.
Tu queres ir, mas tuas vestes se grudam
na primeira pedra
e o teu manto senta sobre mim.
Dou-te de beber
molho teus pés
e seco-os com cabelos-véus.
Toco-te...
sentes minhas mãos sábias e generosas...

Estremeces
e sinto que transbordas comigo.
Mais veloz, porém, que um raio do céu
me afastas prevendo
o perigo impresso no momento.
Dá-me de beber, pregador!
- suplico –
e derramas a eternidade na minha boca...

Seguimos juntos
atemporalmente
e as pedras vão ficando para trás
leves e desarremessadas
para todo o sempre.

Hoje quando cheguei na pequena vila de Madalena, ela veio correndo menina e se atirou nos meus braços, louca pela resposta. Sem saber o que dizer li os três poemas para ela, quase sussurando nos seus ouvidos. Estampou-se-lhe uma "?" imensa  na testa. O monge a queria ou não? Gente, ele quer ou não quer?

Como eu não tinha a  resposta, saí correndo de volta pra cidade com medo que Madalena percebesse que minhas amigas e eu já havíamos nos apaixonado pelo seu monge.

Rondônia - 18/11/2011

                    

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

POSSUÍDA

Gentes lindas da minha tribo,

Fugindo do trabalho ou tentando relaxar a mente... vou fazendo poemas entre um   tronco de árvore e outro. Me deixo perder na mata...
Acho que estou ficando alucinada. Deve ser a energia da floresta amazônica. Se há um culpado por esses estranhos sentimentos que estão me possuindo, é a floresta, com certeza. Falo igual ao antipático Romer Simpson: "se a culpa é minha, eu ponho em quem eu quiser".

I gotta go... keep working. Bye!



ESSA COISA...

Pessoas lindas,

Desta vez vim para um mato mais distante que os matos usuais. Estou praticamente dentro da floresta amazônica, no entanto, por mais que eu fuja de mim, aonde vou me levo junto - com tudo o que implica o "ser eu".


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O APRENDIZ DE AMOR


 
O APRENDIZ DO AMOR
ANTONIO NAHUD JUNIOR, meu querido.
Estou olhando para você neste momento em que  está aprontando-se para  ser reconhecido, mais uma vez, pelo trabalho cultural que desenvolver por todos os lugares onde passa. Agora é em Natal (RN) que receberá o TÍTULO DE CIDADÃO POTIGUAR APROVADO POR UNANIMIDADE NA CÂMARA MUNICIPAL DO NATAL.

Enquanto penso nisso, lembro de uma fala de Jorge Luis Borges: “Que outros se jactem das páginas que escreveram. A mim me orgulho das que tenho lido.” É assim, A. Jr., que sinto sobre os seus textos e sobre a sua linda pessoa: orgulho do que tenho lido de você e em você. Tudo tatuado na minha pele amiga sempre pronta para receber o abraço das suas palavras. Muitas vezes sou abraçada por elas quando vão se inscrevendo em mim no exato momento da leitura de um texto...
O ABISMO

Apelidado pela deusa-morte,
sigo os fios ávidos do labirinto.
Treva e febre.

Garanto-lhe a memória.
Arroubos, porões, esquinas,
fábricas de desaponto e fel.

Catei no obsceno escamas de serpente.
Os cúmulos que me trazem
ao poema.
Assustado. Coxa tatuada com seu nome.
Rendo-me outra vez à sua glória. E vou.
(in Livro das Imagens – capítulo: O aprendiz do amor).

A memória vai avivando e os pedacinhos de papel de suas anotações vão saindo da minha caixa de tesouros: em papeis amarelados guardo muitas das suas crônicas publicadas em jornais diversos (Uma Tarde de Primavera, lembra? Publicada no Jornal A Tarde de Salvador, em 21/06/97). Sou poeta-aventureiro com brincos africanos na orelha e Rilke no coração, sob um altíssimo pinheiro. E pergunto para quem queira ouvir: para onde vai o perfume dos jasmins depois que deixo de senti-lo? Sobre esse cheiro de jasmim eu tenho a resposta, querido: eles ficam rodeando a vida dos que lhe amam.

Mesmo quando você ficou durante tanto tempo andando por outras terras em outros continentes, falando com Saramago, Bloom, Almodovar, Hilda Hilst, Penelope Cruz, Gael Garcia Bernal, Lars Von Trier (in Arte palavraconversando com o Velho mundo) e mandando as notícias, contando das suas saudades, das suas melancolias... muitas vezes querendo voltar para o meu colo de amiga quando as dores inevitáveis eram muito mais valentes do que você. Todos sofremos. O caso é que alguns são melhores atores e não deixam transparecer suas dores. Agora com licença. (in Retratos em Preto & Branco – Contos Góticos de Madrid).Rio muito e sempre ao lembrar o caso no cemitério junto ao túmulo de Baudelaire em Paris. Lembra também desse dia? Outros casos – incontáveis neste espaço virtual-real-social-misturado. E chegavam cartões postais:


Quando você chegava, ao vivo, era só festa no Jd. Savóia, e todo o mundo ia pra lá e todo mundo contava e todo o mundo e todo o mundo cantava e todo o mundo cozinhava no furdunço daquela cozinha e todo o mundo declamava e todo o mundo tocava... Euzner, nossa inesquecível atriz Carla Mendes, Jane Kátia, Jane Hilda, Luciano San Juan, Eliane Sabóia e euzinha encantada com suas histórias do mundo jornalístico e poético e cheio de vida.
Então, meu amigo, celebremos todos esse título com todas as honrarias que você merece. Receba a chave da cidade natalense e abra a porta para nós quando formos lhe visitar para que sejamos sempre os seus seguidores, aprendizes do amor que você sabe ser.

Meu carinho hoje e sempre.















quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PROMESSA DE PALAVRA



Que a minha palavra
não seja mais espada cortante.

Que seja ela a agulha e a linha
que tecem  o bem em cada tecido
de cada pétala de flor
e que remendam o que foi esgarçado pelos tempos.

Que seja a minha palavra, doravante,
a mão que aponte o horizonte da boa fortuna,
a cola que una fortemente
todo ser a cada ser;
que prove que todo amanhecer
é uma flor que se abre
e sabe, como qualquer rosa,
ser generosa em alegrias;
que seja semente em festa
quando emancipa a flor do botão;
que seja cantiga de flauta
fiel som de toda canção;
que seja ela apaziguada e eflorescente
pela força da nova semente
a brotar flores nos canteiros da fala.

Que seja a promessa desabrochada.

Que seja a ponte ligante ao verbo amar.

Que seja sempre a flor anunciada:

         em cada palavra dita
         em cada palavra escrita
         em cada palavra dada.

(Neuzamaria Kerner 24/11/2011)

Sempre que volto do mato para espiar um mundo diferente daquele que vive em mim, às vezes encontro algo belo no ar. Hoje encontrei flores se abrindo. Muitas flores.
Anna Amélia Marback, uma grande amiga, pessoa especialíssima, me enviou este vídeo que vale a pena ser visto direto no site informado porque a tela fica grande. Ela me enviou flores porque sabe como gosto delas. Tenho muita sorte por conhecer pessoas como Anna Amélia! Enquanto ia assistindo, palavras iam desabrochando na minha mente e fui rápida com o lápis para não perder nada. 
As palavras que emitimos em todas as horas, no meu modo besta de ver a vida, devem ser como as flores do vídeo: promessas de amor. A palavra deve ser sempre ponte que nos une ao mundo e às pessoas todas. Tropeço nas palavras e quando fico derrubada - uso a força que elas têm e as faço espadas. Mas escrevi a promessa em forma de versos e espero poder cumprir porque toda palavra dada tem que ser inteira, pura e amorosa.



domingo, 9 de outubro de 2011

ELI, O OUTRO

Ainda me é impossível parar de escrever sobre Eli. Nesse momento, no entanto, não se trata exatamente do personagem do filme - postagem de 25 de abril -, mas o Ser amado de Hannah Senesh e de quem lembra em seus quase últimos momentos de vida. Ela homenageia outro Eli, quando escreveu um poema em seu diário - musicado tempos depois.
Eis o poema, cantado no CD The Very Best of Israel. A tradução foi encontrada no site  http://www.webjudaica.com.br/index.jsp















Eli, Eli / Meu Deus, Meu Deus
Shelo yigamer le'olam / Que não se acabe nunca
Hachol ve'hayam / A areia do mar
Rishrush shel hama'yin / O movimento das águas
Berak hashama' yim / O brilho do céu
Tfilat ha'adam / A reza do homem.


Mesmo sabendo que a hora da morte se avizinhava, Hannah não abandonou o sentimento de amor por Eli (D-us), confiando que Ele providenciaria a permanência das coisas que ela admirava e que foram criadas nesta vida, conforme suas palavras no poema. Nessa canção alguns tradutores acrescentam no final: A voz chamou e eu fui / Eu fui porque a voz chamou. Nessa hora eu tenho que pensar de novo no filme O Livro de Eli, quando ele diz da voz que ouvira, dando-lhe instruções.


Hannah Senesh, filha de famoso jornalista e dramaturgo húngaro, desde cedo demonstrou inclinações para a arte da leitura e da escrita e, ainda criança, já começava o seu processo de "imortalização" por meio dos seus poemas. Era possuidora de uma imensa capacidade de encantar a todos com sua inteligência comunicativa, sua postura humanista, habilidade de discursar, transformar colegas em amigos e conservá-los . Sabia amar.


Na adolescência sentiu que o fogo do desejo de lutar em defesa dos seus pares de origem judaica lhe dava mais sentido à vida, bem como a consciência do que teria de enfrentar para defender-se e a seu povo. As questões políticas começavam a perturbar a vida na Europa lá pelos idos 1930, principalmente com a chegada de Hitler ao poder, em 1933, como Chanceler da Alemanha. Hannah, então, identifica-se com o movimento sionista, mas, "sem perder a ternura", luta e escreve poemas firmando, de vez, a sua posição no mundo.

Escondida com outros guerrilheiros, numa floresta, escreveu um de seus mais famosos poemas, Blessed is the Match: "Bendito é o jogo consumido em arder fogo / Bendita seja a chama que arde em segredo no coração / Abençoado seja o coração com força para parar de bater por causa de sua honra / Bendito seja o jogo consumido em acender fogo". Por esse poema ela foi homenageada com o documentário Blessed is the Match: The Life and Death of Hannah Senesh (Bendito é o jogo: Vida e Morte de Hannah Senesh) - EUA, 2008.
Após a sua execução, 07 de novembro de 1944, em seu diário foi encontrado escrito: "... eu joguei o que mais importava / os dados foram lançados / eu perdi." Hannah, no entanto, nada perdeu porque na vida nada se perde. Os aprendizados são os ganhos. Quem ensina o valor que os sonhos têm, vence. Ela se fez heroína porque, inclusive, venceu o medo da vida e da morte. Portanto, só há ganhos, mesmo no equívoco das perdas. Hannah sabia disso e imortalizou-se ao ser a antena literária que captou, enquanto esteve por aqui, a alma e o sonho do seu povo.

O amor a Eli, O Outro, foi a sua inspiração, a sua coragem. O Pe. Antonio Vieira disse que o livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. Cada verso que Hannah Senesh escreveu é um mundo de palavras - mudas para alguns - que cantam nos meus ouvidos sobre o sonho possível. É o verso guia e sempre vivo, vivendo comigo. De vem em sempre!





























quarta-feira, 5 de outubro de 2011

CHICO E O MENINO

(Ilustração UESC)
Ontem foi - ou todos os dias é? - dia de São Francisco de Assis. Aquele mesmo que falava com os animais. Aquele mesmo que já era santo antes mesmo de sê-lo. Aquele mesmo que - conta-se - ficou nu na praça como gesto de renúncia aos bens materiais (depois de ter desfrutado esses prazeres) e  vivido na esbórnia com os amigos. Era doidinho, esse camarada! "Louco de Deus".

Por isso, a inesquecível professora, colega, amiga, poeta e também santa, Valdelice Pinheiro, escreveu:

Devagarinho,
no silêncio de uma noite
em plena lua,
moveu os pés,
estirou os braços,
inventou uns poucos trapos
na sacola azul,
disse até logo
a Papai do Céu
e, como um menino,
a mão esquerda
puxando a mão direita
do Menino Jesus,
fugiram, os dois,
da tristeza imóvel dos altares.
Na rua,
partindo o silêncio
dessa noite em plena lua,
cantaram e dançaram
a Liberdade na Alegria
e, felizes,
tocaram fogo na cruz.

Valdelice Pinheiro está com Francisco e o Menino fujão desde 29/08/1993.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

SAUDADES DE MIGUEL MARVILLA

Meus alunos são e serão sempre meus professores, por isso acredito que a educação só acontece quando há a troca: todos somos mestres e aprendizes ao mesmo tempo.

Na medida em que vou apontando um caminho meus alunos vão me apontando outros e aí acontece o maravilhamento. Assim aconteceu quando um aluno me apresentou a Miguel Marvilla. Ele era profundo admirador do poeta e me contagiou automaticamente. Me presenteou com o livro "Dédalo". Paixão imediata ao lê-lo e senti-lo em sua força poética. Marvilla passou a ser mais um dos meus amores. Já falei antes - outras postagens - que tenho muitos amores e paixões, todas confessáveis.

Abro o jornal e vejo um texto da querida profª. Ester Abreu Vieira de Oliveira, falando do nosso poeta. Meu coração saltador, teve que ser contido rapidamente para que minha alma não corresse para outros mundos a fim de rever Miguel, meu arcanjo da poesia. Entro no site  
 http://www.tertuliacapixaba.com.br/arquivo/andreia_delmaschio_miguel_marvilla.htm  e leio Enfim, o precipício, belo texto de Andréia Delmaschio, sobre o livro "Dédalo"
 
 Como esse meu texto não é resenha, mas homenagem, declaração de amor e saudade, posto aqui o poema que escrevi em 2006 para Miguel:


CONVERSA COM O “DÉDALO” DE MARVILLA
                                                                                 
Tu mesmo criaste o labirinto perdedeiro
onde preso em silêncios ficaste só
quando tudo parecia perdido.

Não queiras morrer, Dédalo,
sem lembrares a palavra esquecida

(peça faltante para asas voadoras).

Queres fugir para o futuro
mesmo sabendo que teu instante
é agora e aqui.

Colhe o vínculo, sem medo,
que a vida te oferece no hoje
e te manterás nela
em lembramentos de amor
que te farão presente e eterno...

Assim
não te sentirás atado
em teias frágeis
por teres o fio condutor

                        (dado a ti para voares solar).

Não te dês por vencido
porque em teu destino és tu o vencedor.

Se quiseres render-te
faze somente ao Amor
livradeiro dos teus precipícios interiores
dos teus inventos  que sempre trouxeram
dissabores, perseguições, fantasmas mal-criados...

Dédalo
sou o Fio
caminho certeiro
asa que não derrete

                        (nem se acovarda diante do sol).

Vem, confia, desvicia e fica
por fim...
porque sem ti, peregrino,
ficarei também sem mim.

Neuzamaria Kerner 
06/10/2006