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domingo, 24 de junho de 2012

REVELAÇÃO





A palavra

dormida no tempo

acorda o que a luz anela;

O sono

sereno na noite

acalma o que o dia revela.



Neuzamaria Kerner

Birigui - Ave Cristo - 22/06/2012

ERA UMA VEZ...




Uma cigarra,

mesmo quando o inverno inda se fazia

ela insistia em ficar atracada na viola

abraçando cantigas.

Aquele que passava sob a chuva que caía

via a cigarra fora de moda

cantando modas de amar.

O céu jogava água pra fora

encharcando a vida da beira ao centro .

Aquele que passava sob a chuva que caía

Via pela vidraça olhos chovendo
pra dentro.

Era uma vez...

Neuzamaria Kerner
Birigui - Ave Cristo - 22/06/2012




NA LUZ



... E de repente


 Final do dia.

Não era sarça

Não era fogo

Nem faísca alguma havia

Mas era um bosque

Todo contente

Que na luz findante


ardia...

Neuzamaria Kerner

Birigui - Ave Cristo - 22/06/2012


ALGUMAS (IR)RELEVANTES DESCOBERTAS NO AZUL DA AZUL





Quando pensei que encontraria quem apagasse os meus incêndios,
descobri que continuava,
eu própria,
apagando os alheios.

Descobri que as pessoas que eu considerava as mais perfeitas,
continuaram perfeitas,
embora tivessem mais dores ocultas
do que as minhas.

Os meus herois possuem tantos medos
quanto eu:
        medos diferentes
        porém medos apenas.

Os mestres que digo serem meus continuarão sendo,
mas agora tenho um outro olhar sobre eles.
Então descobri que sou mestra
de mim mesma.
 
Descobri que acima das nuvens o arrebol também é belo,
vermelho e alaranjado e indefinível
e curvo
no horizonte
que me entra nos olhos de ver através da janela da Azul
adejando sobre nuvens me levanto para o infinito dos sonhos...
        e sonho mais e além.

Homens – muito mais do que imaginava –
mesmo os grandes e musculosos,
tremem dentro das turbulências dos voos.
Isso me obrigou o exercício da calma e da coragem para poder
segurar-lhes as mãos.

Os exercícios físicos me estressam ou cansam;
os da alma me ensinam o inensinável:
humildade.

Pedir perdão, verbalizando, só para agradar e deixar o outro feliz
porque ganhou uma batalha
        mesmo aparente
não me interessa mais.

As minhas descobertas são novas para mim,
mas é provável
que o homem ou a mulher da caverna
já as tinham feito também.

Muitos pensam que sabem muito o que sabem
         assim como eu,
mas a sabedoria que dá o saber de si mesmo
é a que amplia por dentro.

Foi duro ver que muitos dão o que não têm para si:
         amor
         companhia
         paz!

Descobri que sou tão fraca quanto os que bradam que não o são...
mas num canto escondido roem as unhas
se roem na solidão.

Descobri que a cada dia sou outra porque cada dia
em suas particularidades
é um divisor de ciclos.

Todos gostam de mágica. Os que dizem não gostar
a querem tanto que mentem
só pra manterem os pés no chão.
Quanto a mim, quanto mais levito mais a mágica acontece porque existe
de verdade:
        a minha!
 
Descobri que qualquer dependência é dependência
desde a dependência do outro até o creme dental ou,
quiçá,
a marca do papel higiênico.
Sou valente, a coragem me possui
       – nos possuímos –
quando posso admitir que também
         dependo
         dependo!
 
Descobri que somos todos muito ocupados
         - quando queremos -
ou quando precisamos dizer que somos
         - mesmo sem sermos -

Todos tocamos qualquer instrumento, mesmo quando,
em verdade, nada tocamos... e tudo é música
       a que nominamos
       porque é nossa.

Descobri que detesto meus grossos braços
mas os uso a todo instante porque
         abraço abraço abraço
porque sou feita de mais do que braços,
por isso linda e linda...
e há gente que ainda
nem descobriu que tem braços.

                                                        Neuzamaria Kerner

                            Voo Azul: Ave Cristo-Birigui-Araçatuba-Campinas-Vitória

                                                                  23/06/2012

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A IMPORTÂNCIA DO SILÊNCIO NOS (TODOS) ESPAÇOS SAGRADOS



(imagem do google)


Existe uma música chamada The Sound of Silence – O Som do Silêncio (Simon & Garfunkel) que só a melodia já nos eleva e enleva. Traduzindo um pequeno trecho temos: pessoas conversando sem estar dizendo / pessoas ouvindo sem estar escutando... Será que normalmente tagarelamos só pelo hábito de falar, falar e falar? É preciso que pensemos a respeito.

No filme Nosso Lar há um momento em que Lísias oferece água fluidificada para um paciente, em tratamento no hospital na colônia espiritual, que não parava de falar - sem dizer muita coisa, mais perguntando do que querendo ouvir. Lísias  pede-lhe que permaneça com a boca bem cheia de água, sem engulir, durante muito tempo; fazia parte do tratamento e da cura. Na verdade enquanto não podia falar, refletia. É preciso que pensemos a respeito.

Jesus, quando queria falar com o Pai, recolhia-se, fugia da falação humana, e assim se processava, livre e serenamente, a verdadeira intimidade entre Pai e Filho. É preciso que pensemos a respeito.

No livro Comer, Rezar e Amar a personagem, enquanto estava na Índia, em busca de si mesma, entende que rezar é falar com Deus e meditar (e isso se faz em silêncio) é ouvir o que Deus tem a nos dizer. É preciso que pensemos a respeito.

Há uma historinha, bastante conhecida, sobre o patrão que manda o empregado ir à feira comprar a melhor iguaria a fim de oferecer um jantar a convidados da melhor qualidade. O empregado traz língua. No dia seguinte o jantar seria para convidados da pior qualidade e o empregado traz também língua. Podemos deduzir a moral da história? É preciso que pensemos a respeito.

Existem muitos  exemplos sobre o valor do silêncio, principalmente quando estamos numa casa de oração porque é quando acontece a sintonia mental com a luz divina, quando nosso guia ou anjo da guarda coxixa em nossos ouvidos, lembrando-nos sobre a nossa essência e da necessidade de recebermos os comunicados necessários para a reparação dos nossos equívocos e até soluções para nossos problemas.

É por isso, e muito mais, que se diz que o silêncio é uma prece. Portanto, quando estivermos num local onde a oração conjunta é muito importante para potencializar as energias vindas do céu para que a providência divina opere em nós, aquietemos a mente, silenciemos a boca para que a nossa prece emane do coração e seja ouvida pelo Mestre. Lembremos disso da próxima vez em que adentrarmos centros de orações ou em espaços que os representem.

O poeta Caio Fernando Abreu, muito sabidamente, escreveu que o silêncio responde até mesmo aquilo que não foi perguntado. Então, entendemos que os nossos ouvidos e olhos vivem cheios dos ruídos da modernidade que nos impedem de ver e ouvir o que é realmente essencial: o sagrado que há nos lugares, nas coisas e nas pessoas que nos rodeiam. Se queisermos ter olhos de ver e ouvidos de ouvir, devemos exercitar a primeira condição para o contato com o sagrado, ou seja, silenciar para sentir e adquirir a lucidez de estarmos na terra sagrada interior onde ocorre o diálogo intraduzível da nossa alma com o Divino que está em todos os lugares, misturado com todas as coisas pois que é onipresente. Por isso que no Paraíso bíblico não havia templos porque tudo estava presente em tudo. Hoje entendemos como templo apenas uma construção física onde passamos alguns momentos para pedir e receber. Nem lembramos que o nosso próprio corpo é o templo onde o Senhor da vida habita. A nossa mente a fábrica dos milagres.

Em verdade, quando queremos reentrar ou reencontrar o Paraíso, basta fazermos a conexão com o momento presente e, em silêncio, caminhar pelos jardins em estado de reverência e gratidão. É nessa hora que recebemos as iluminações. Este é o motivo de os hindus fazerem mouna – votos de silêncio - por um período, pequeno que seja, a fim de poder olhar, ver, ouvir(-se) e sentir. Os yogues, os filósofos e os religiosos privilegiam a meditação e o silenciar como atos de escuta e reverência à Criação.

Numa palestra do psicanalista Luis Fernando Rodrigues ouvi uma definição sobre o que é Sagrado, Profano e Experiência com o Divino que serviu para minhas reflexões: Sagrado é tudo aquilo que escapa da rotina; tudo aquilo que não é senso comum; tudo aquilo que não se repete no cotidiano. É uma experiência com algo que nos leva aos nossos limites. Ao contrário de Profano, que é repetitivo, cotidiano, aquilo que está esvaziado de experiência – esvaziado do sentido mágico; a Experiência destituída do impacto emocional. Deus, no entanto, é uma Experiência indecifrável. Para entendê-Lo é preciso contemplar que é olhar sem poder conceituar.

Creio que precisamos repensar a importância do silêncio, principalmente nos locais aos quais atribuímos o sentimento da sacralidade. Finalizo com o trecho de mais uma historinha que me contaram há muito, muito tempo:

Havia certa vez um homem que dizia nome de Deus. Quando o coração lhe doía por uma criança que chorava, ou um pobre que mendigava, ele andava até a floresta, acendia o fogo, entoava canções e dizia as palavras. E Deus o ouvia... O tempo passou. Voltou à mesma floresta. Mas não carregava fogo nas mãos. Só lhe restou cantar as canções e dizer as palavras. E Deus o atendeu ainda assim. Um tempo mais longo se foi. Sem fogo nas mãos, sem força nas pernas, não alcançou a floresta. Mas do seu quarto saíram as mesmas canções e as mesmas palavras. E Deus lhe disse que sim. Chegou a velhice. Nem floresta nem fogo ou canções. Restaram as palavra. E o mesmo milagre ocorreu. Por fim, sem fogo ou floresta, sem canções ou palavras. Só mesmo o infinito desejo e o silêncio: e Deus atendeu...

Paz & Luz!