ESCREVIVENDO impressões... do que vivo, do que vejo, do que leio, do que toco, do que sinto!
domingo, 24 de junho de 2012
ERA UMA VEZ...
Uma cigarra,
mesmo quando o inverno inda se
fazia
ela insistia em ficar atracada
na viola
abraçando cantigas.
Aquele que passava sob a chuva
que caía
via a cigarra fora de moda
cantando modas de amar.
O céu jogava água pra fora
encharcando a vida da beira ao
centro .
Aquele que passava sob a chuva
que caía
Via pela vidraça olhos chovendo
pra dentro.
Era uma vez...
Neuzamaria Kerner
Birigui - Ave Cristo - 22/06/2012
ALGUMAS (IR)RELEVANTES DESCOBERTAS NO AZUL DA AZUL
Quando
pensei que encontraria quem apagasse os meus incêndios,
descobri
que continuava,eu própria,
apagando os alheios.
Descobri que as pessoas que eu considerava as mais perfeitas,
continuaram perfeitas,
embora tivessem mais dores ocultas
do que as minhas.
Os
meus herois possuem tantos medos
quanto
eu:medos diferentes
porém medos apenas.
Os mestres que digo serem meus continuarão sendo,
mas agora tenho um outro olhar sobre eles.
Então descobri que sou mestra
de mim mesma.
Descobri que acima das nuvens o arrebol também é belo,
vermelho e alaranjado e indefinível
e curvo
no horizonte
que me entra nos olhos de ver através da janela da Azul
adejando sobre nuvens me levanto para o infinito dos sonhos...
e sonho mais e além.
Homens – muito mais do que imaginava –
mesmo os grandes e musculosos,
tremem dentro das turbulências dos voos.
Isso me obrigou o exercício da calma e da coragem para poder
segurar-lhes as mãos.
Os exercícios físicos me estressam ou cansam;
os da alma me ensinam o inensinável:
humildade.
Pedir perdão, verbalizando, só para agradar e deixar o outro feliz
porque ganhou uma batalha
mesmo aparente
não me interessa mais.
As
minhas descobertas são novas para mim,
mas é provável
que
o homem ou a mulher da cavernajá as tinham feito também.
Muitos
pensam que sabem muito o que sabem
assim como eu,
mas
a sabedoria que dá o saber de si mesmoé a que amplia por dentro.
Foi
duro ver que muitos dão o que não têm para si:
amor
companhia
paz!
Descobri
que sou tão fraca quanto os que bradam que não o são...
mas
num canto escondido roem as unhasse roem na solidão.
Descobri
que a cada dia sou outra porque cada dia
em
suas particularidadesé um divisor de ciclos.
Todos gostam de mágica. Os que dizem não gostar
a querem tanto que mentem
só pra manterem os pés no chão.
Quanto a mim, quanto mais levito mais a mágica acontece porque existe
de verdade:
a minha!
Descobri que qualquer dependência é dependência
desde a dependência do outro até o creme dental ou,
quiçá,
a marca do papel higiênico.
Sou valente, a coragem me possui
– nos possuímos –
quando posso admitir que também
dependo
dependo!
Descobri que somos todos muito ocupados
- quando queremos -
ou quando precisamos dizer que somos
- mesmo sem sermos -
Todos tocamos qualquer instrumento, mesmo quando,
em verdade, nada tocamos... e tudo é música
a que nominamos
porque é nossa.
Descobri que detesto meus grossos braços
mas os uso a todo instante porque
abraço abraço abraço
porque
sou feita de mais do que braços, por isso linda e linda...
e há gente que ainda
nem descobriu que tem braços.
Neuzamaria
Kerner
Voo Azul: Ave Cristo-Birigui-Araçatuba-Campinas-Vitória
23/06/2012
quinta-feira, 7 de junho de 2012
A IMPORTÂNCIA DO SILÊNCIO NOS (TODOS) ESPAÇOS SAGRADOS
(imagem do google)
Existe uma música chamada The
Sound of Silence – O Som do Silêncio
(Simon & Garfunkel) que só a melodia já nos eleva e enleva. Traduzindo
um pequeno trecho temos: pessoas conversando sem estar dizendo / pessoas ouvindo sem estar escutando... Será que normalmente tagarelamos só pelo hábito de falar, falar e falar?
É preciso que pensemos a respeito.
No filme Nosso Lar há um momento em que
Lísias oferece água fluidificada para um paciente, em tratamento no hospital na
colônia espiritual, que não parava de falar - sem dizer muita coisa, mais
perguntando do que querendo ouvir. Lísias
pede-lhe que permaneça com a boca bem cheia de água, sem engulir,
durante muito tempo; fazia parte do tratamento e da cura. Na verdade enquanto
não podia falar, refletia. É preciso que pensemos a respeito.
Jesus, quando queria
falar com o Pai, recolhia-se, fugia da falação humana, e assim se processava,
livre e serenamente, a verdadeira intimidade entre Pai e Filho. É preciso que
pensemos a respeito.
No livro Comer, Rezar e Amar a personagem,
enquanto estava na Índia, em busca de si mesma, entende que rezar é falar com
Deus e meditar (e isso se faz em silêncio) é ouvir o que Deus tem a nos dizer.
É preciso que pensemos a respeito.
Há uma historinha,
bastante conhecida, sobre o patrão que manda o empregado ir à feira comprar a
melhor iguaria a fim de oferecer um jantar a convidados da melhor qualidade. O
empregado traz língua. No dia seguinte o jantar seria para convidados da pior
qualidade e o empregado traz também língua. Podemos deduzir a moral da
história? É preciso que pensemos a respeito.
Existem muitos exemplos sobre o valor do silêncio,
principalmente quando estamos numa casa de oração porque é quando acontece a
sintonia mental com a luz divina, quando nosso guia ou anjo da guarda coxixa em
nossos ouvidos, lembrando-nos sobre a nossa essência e da necessidade de
recebermos os comunicados necessários para a reparação dos nossos equívocos e
até soluções para nossos problemas.
É por isso, e muito
mais, que se diz que o silêncio é uma prece.
Portanto, quando estivermos num local onde a oração conjunta é muito importante
para potencializar as energias vindas do céu para que a providência divina
opere em nós, aquietemos a mente, silenciemos a boca para que a nossa prece
emane do coração e seja ouvida pelo Mestre. Lembremos disso da próxima vez em
que adentrarmos centros de orações ou em espaços que os representem.
O poeta Caio Fernando
Abreu, muito sabidamente, escreveu que o
silêncio responde até mesmo aquilo que não foi perguntado. Então,
entendemos que os nossos ouvidos e olhos vivem cheios dos ruídos da modernidade
que nos impedem de ver e ouvir o que é realmente essencial: o sagrado que há
nos lugares, nas coisas e nas pessoas que nos rodeiam. Se queisermos ter olhos
de ver e ouvidos de ouvir, devemos exercitar a primeira condição para o contato
com o sagrado, ou seja, silenciar para sentir e adquirir a lucidez de estarmos
na terra sagrada interior onde ocorre o diálogo intraduzível da nossa alma com
o Divino que está em todos os lugares, misturado com todas as coisas pois que é
onipresente. Por isso que no Paraíso bíblico não havia templos porque tudo
estava presente em tudo. Hoje entendemos como templo apenas uma construção física onde passamos alguns momentos
para pedir e receber. Nem lembramos que o nosso próprio corpo é o templo onde o
Senhor da vida habita. A nossa mente a fábrica dos milagres.
Em verdade, quando
queremos reentrar ou reencontrar o Paraíso, basta fazermos a conexão com o momento
presente e, em silêncio, caminhar pelos jardins em estado de reverência e
gratidão. É nessa hora que recebemos as iluminações. Este é o motivo de os
hindus fazerem mouna – votos de
silêncio - por um período, pequeno que seja, a fim de poder olhar, ver,
ouvir(-se) e sentir. Os yogues, os filósofos e os religiosos privilegiam a
meditação e o silenciar como atos de escuta e reverência à Criação.
Numa palestra do
psicanalista Luis Fernando Rodrigues ouvi uma definição sobre o que é Sagrado,
Profano e Experiência com o Divino que serviu para minhas
reflexões: Sagrado é tudo aquilo que
escapa da rotina; tudo aquilo que não é senso comum; tudo aquilo que não se
repete no cotidiano. É uma experiência com algo que nos leva aos nossos
limites. Ao contrário de Profano, que é repetitivo, cotidiano, aquilo que está
esvaziado de experiência – esvaziado do sentido mágico; a Experiência
destituída do impacto emocional. Deus, no entanto, é uma Experiência
indecifrável. Para entendê-Lo é preciso contemplar que é olhar sem poder
conceituar.
Creio que precisamos repensar a importância do silêncio,
principalmente nos locais aos quais atribuímos o sentimento da sacralidade. Finalizo
com o trecho de mais uma historinha que me contaram há muito, muito tempo:
Havia certa
vez um homem que dizia nome de Deus. Quando o coração lhe doía por uma criança
que chorava, ou um pobre que mendigava, ele andava até a floresta, acendia o
fogo, entoava canções e dizia as palavras. E Deus o ouvia... O tempo passou.
Voltou à mesma floresta. Mas não carregava fogo nas mãos. Só lhe restou cantar
as canções e dizer as palavras. E Deus o atendeu ainda assim. Um tempo mais
longo se foi. Sem fogo nas mãos, sem força nas pernas, não alcançou a floresta.
Mas do seu quarto saíram as mesmas canções e as mesmas palavras. E Deus lhe
disse que sim. Chegou a velhice. Nem floresta nem fogo ou canções. Restaram as
palavra. E o mesmo milagre ocorreu. Por fim, sem fogo ou floresta, sem canções
ou palavras. Só mesmo o infinito desejo e o silêncio: e Deus atendeu...
Paz & Luz!
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