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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

MADALENA DA AMAZÔNIA







Algumas pessoas dizem que no mato nada acontece. Engano. Acontece até mais coisa do que imaginamos, desde o sobrenatural até a natural paixão. Onde houver o elemento humano coisas acontecem. Tanto faz no centro de Nova Iorque como no meio do mato.

Conheci Madalena que vive na boca da Floresta Amazônica. Me contou a sua história e  disse que eu poderia escrever e ainda "botar" o nome dela e o nome do "santo monge", de tanta que era a verdade que me falava. Poupei o monge. É uma   hstória comum que pode acontecer em qualquer lugar.


É... professora, to descaximbada de paxão. Choro dia e note, mana. Foi o boto, Madalena? - pergunto. Não sinhora, foi o monge. Monge?!... - exclamo cheia de perplexidade - como assim? Ela, toda simples: eu tava aqui no meio desse mundão verde e ele chegou quetinho feito aparição. Bunito que só Jesus! Um brilho istranho no oio... fala macio e diz tanta coisa de ganhar mulher  igual as cantiga de  Leandro e Leonardo.
- O monge estava lhe dando cantada, Madalena?
- Não, professora, ele falava igual pra todo mundo. Mas ele me oiava lá dentro...
- Lhe olhava na sua cabana?
- Não, oiava la dentro do meu oio e eu cumeçava a tremer nas mão, nos pé, tudo virava uma tremedera só. Todo o dia assim.
- Ele passava a mão em você? (eu já quis imaginar que o danadinho estava se aproveitando).
- Não. Não é isso qui a sinhora ta pensano. Mas ele me abraça muito, mas abraça todo mundo. Home, véio, novo, aleijão... Qui nem as história de Jesus. Mas cumigo tem um negoço diferente. Nunca fiquei dentro de um abraço tão longo. Ninguém nunca me abraçou assim. tem gente que já reparou. Mas nunca tirô ozadia. Ele é santo, home direito e fala tão sincero. A sinhora intende?
- Entendo... (gente, eu juro que entendi mesmo).

- Então eu disse muito obrigada a Deus que mi mandou um home direito. Quando ele vem di tardinha, eu lavo os pé dele, faço café, tapioca com côco... ele gosta, fecha os ois e abre os braço. Mi da uma vontadi de bejá ele bem na boca, mas eu tenho medo de botá o santo pra durmi e dispertá o home. Sou vige e vai que eu to inganada sobre as intenção dele comigo? E se ele sumisse depois da minha declaração?... Intão, quando me da vontade de bejá eu canto e ele ri com a boca, os oio, o coração. Parece até qui ele quiria... Mas cadê a minha certeza? Um dia resolvi dizê que amava. Ele disse: - muito bom, Madalena. Daí eu passei a dizê todo dia e ele fica mais feliz porque ri interinho.
- A sinhora acha que ele me quer?

Meu Deus, que pergunta desgraçada! O que eu vou responder pra essa criatura toda cheia de paixão? Tão bonita, tão grata, tão generosa com o monge...

- Vou pensar... Acho até que preciso conhecer o monge primeiro. Onde ele está agora?
- La pras bandas de Guajará-mirim fazenu reza de meditá e falanu pro povo. Deve de chegá hoje cum o final do sol.

Gente, eu tinha que responder alguma coisa, mas não tinha a resposta. Quando o conheci, meu coração disparou e quase (?) me apaixono também. Esse é o homem que toda mulher deseja. Meu Deus! "Ecce Homo"!  Mas tive a forte intuição de que o monge estava realmente impressionado com tudo em Madalena. Adiei a resposta por mais um dia e resolvi escrever para duas amigas: Milene Sarquissiano (RS) e para Ana Rita Ferraz (BA). Descrevi o monge. As fiz mergulhar na história, elas   se comoveram, mas responderam assim:


VIRGEM TERNO
Milene Sarquissiano -
www.milenesarkis.blogspot.com


Bendigo teu nome, todo dia e toda hora
Como se imaculado santo fosses
e eu, beata de ti,
crucificada a fazer-te rosário de orações.

Furto de ti todas as chagas, de todas as vidas
Apoderando-me de teus infortúnios todos
E curo-te com a minha espantosa bondade.

Velo teus passos enquanto me faço caminho
Por onde teus pés nus e sôfregos, peregrinam.

E te espero feito sina, no final do calvário,
Com as mãos sangrando e o olhar sagrado,

Onde virgem terno, eterno irás repousar.
Em seguida recebo de Ana Rita um poema de Armando Freitas Filho (RJ):
A felicidade pode ser de carne
  de pele apenas - corpo sem cara
  nem cabeça, mas com a boca máxima
  e muitos braços, peitos, coxa
  perna musculosa, clavícula
  omoplata, ventre liso esticado
  peludo no lugar certo do sexo
  e mais o cheiro preciso, exasperado
  da axila, virilha, pé
  tudo chegando junto, de uma vez
  ou aos poucos, esquartejado.

Continuo sem a resposta para a pobre da Madalena, mas escrevi assim:

MADALENA

Do poço de Jacó
no meu cântaro-corpo
em vez de bálsamo trago a líquida imagem
dos quereres do mundo.
 Na sexta hora do dia
hora ausente das sombras
havidas em Samaria
pressinto tuas pisadas caminhantes
sobre os meus desejos.
Do meu vaso de alabastro
deixo verter lágrimas de cheiro
deixo verter águas de água
para alívio das minhas sedes
desapaziguadas
na espera do teu olhar.

Passas.
Tu queres ir, mas tuas vestes se grudam
na primeira pedra
e o teu manto senta sobre mim.
Dou-te de beber
molho teus pés
e seco-os com cabelos-véus.
Toco-te...
sentes minhas mãos sábias e generosas...

Estremeces
e sinto que transbordas comigo.
Mais veloz, porém, que um raio do céu
me afastas prevendo
o perigo impresso no momento.
Dá-me de beber, pregador!
- suplico –
e derramas a eternidade na minha boca...

Seguimos juntos
atemporalmente
e as pedras vão ficando para trás
leves e desarremessadas
para todo o sempre.

Hoje quando cheguei na pequena vila de Madalena, ela veio correndo menina e se atirou nos meus braços, louca pela resposta. Sem saber o que dizer li os três poemas para ela, quase sussurando nos seus ouvidos. Estampou-se-lhe uma "?" imensa  na testa. O monge a queria ou não? Gente, ele quer ou não quer?

Como eu não tinha a  resposta, saí correndo de volta pra cidade com medo que Madalena percebesse que minhas amigas e eu já havíamos nos apaixonado pelo seu monge.

Rondônia - 18/11/2011

                    

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

POSSUÍDA

Gentes lindas da minha tribo,

Fugindo do trabalho ou tentando relaxar a mente... vou fazendo poemas entre um   tronco de árvore e outro. Me deixo perder na mata...
Acho que estou ficando alucinada. Deve ser a energia da floresta amazônica. Se há um culpado por esses estranhos sentimentos que estão me possuindo, é a floresta, com certeza. Falo igual ao antipático Romer Simpson: "se a culpa é minha, eu ponho em quem eu quiser".

I gotta go... keep working. Bye!



ESSA COISA...

Pessoas lindas,

Desta vez vim para um mato mais distante que os matos usuais. Estou praticamente dentro da floresta amazônica, no entanto, por mais que eu fuja de mim, aonde vou me levo junto - com tudo o que implica o "ser eu".


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O APRENDIZ DE AMOR


 
O APRENDIZ DO AMOR
ANTONIO NAHUD JUNIOR, meu querido.
Estou olhando para você neste momento em que  está aprontando-se para  ser reconhecido, mais uma vez, pelo trabalho cultural que desenvolver por todos os lugares onde passa. Agora é em Natal (RN) que receberá o TÍTULO DE CIDADÃO POTIGUAR APROVADO POR UNANIMIDADE NA CÂMARA MUNICIPAL DO NATAL.

Enquanto penso nisso, lembro de uma fala de Jorge Luis Borges: “Que outros se jactem das páginas que escreveram. A mim me orgulho das que tenho lido.” É assim, A. Jr., que sinto sobre os seus textos e sobre a sua linda pessoa: orgulho do que tenho lido de você e em você. Tudo tatuado na minha pele amiga sempre pronta para receber o abraço das suas palavras. Muitas vezes sou abraçada por elas quando vão se inscrevendo em mim no exato momento da leitura de um texto...
O ABISMO

Apelidado pela deusa-morte,
sigo os fios ávidos do labirinto.
Treva e febre.

Garanto-lhe a memória.
Arroubos, porões, esquinas,
fábricas de desaponto e fel.

Catei no obsceno escamas de serpente.
Os cúmulos que me trazem
ao poema.
Assustado. Coxa tatuada com seu nome.
Rendo-me outra vez à sua glória. E vou.
(in Livro das Imagens – capítulo: O aprendiz do amor).

A memória vai avivando e os pedacinhos de papel de suas anotações vão saindo da minha caixa de tesouros: em papeis amarelados guardo muitas das suas crônicas publicadas em jornais diversos (Uma Tarde de Primavera, lembra? Publicada no Jornal A Tarde de Salvador, em 21/06/97). Sou poeta-aventureiro com brincos africanos na orelha e Rilke no coração, sob um altíssimo pinheiro. E pergunto para quem queira ouvir: para onde vai o perfume dos jasmins depois que deixo de senti-lo? Sobre esse cheiro de jasmim eu tenho a resposta, querido: eles ficam rodeando a vida dos que lhe amam.

Mesmo quando você ficou durante tanto tempo andando por outras terras em outros continentes, falando com Saramago, Bloom, Almodovar, Hilda Hilst, Penelope Cruz, Gael Garcia Bernal, Lars Von Trier (in Arte palavraconversando com o Velho mundo) e mandando as notícias, contando das suas saudades, das suas melancolias... muitas vezes querendo voltar para o meu colo de amiga quando as dores inevitáveis eram muito mais valentes do que você. Todos sofremos. O caso é que alguns são melhores atores e não deixam transparecer suas dores. Agora com licença. (in Retratos em Preto & Branco – Contos Góticos de Madrid).Rio muito e sempre ao lembrar o caso no cemitério junto ao túmulo de Baudelaire em Paris. Lembra também desse dia? Outros casos – incontáveis neste espaço virtual-real-social-misturado. E chegavam cartões postais:


Quando você chegava, ao vivo, era só festa no Jd. Savóia, e todo o mundo ia pra lá e todo mundo contava e todo o mundo e todo o mundo cantava e todo o mundo cozinhava no furdunço daquela cozinha e todo o mundo declamava e todo o mundo tocava... Euzner, nossa inesquecível atriz Carla Mendes, Jane Kátia, Jane Hilda, Luciano San Juan, Eliane Sabóia e euzinha encantada com suas histórias do mundo jornalístico e poético e cheio de vida.
Então, meu amigo, celebremos todos esse título com todas as honrarias que você merece. Receba a chave da cidade natalense e abra a porta para nós quando formos lhe visitar para que sejamos sempre os seus seguidores, aprendizes do amor que você sabe ser.

Meu carinho hoje e sempre.