Quando
pensei que encontraria quem apagasse os meus incêndios,
descobri
que continuava,eu própria,
apagando os alheios.
Descobri que as pessoas que eu considerava as mais perfeitas,
continuaram perfeitas,
embora tivessem mais dores ocultas
do que as minhas.
Os
meus herois possuem tantos medos
quanto
eu:medos diferentes
porém medos apenas.
Os mestres que digo serem meus continuarão sendo,
mas agora tenho um outro olhar sobre eles.
Então descobri que sou mestra
de mim mesma.
Descobri que acima das nuvens o arrebol também é belo,
vermelho e alaranjado e indefinível
e curvo
no horizonte
que me entra nos olhos de ver através da janela da Azul
adejando sobre nuvens me levanto para o infinito dos sonhos...
e sonho mais e além.
Homens – muito mais do que imaginava –
mesmo os grandes e musculosos,
tremem dentro das turbulências dos voos.
Isso me obrigou o exercício da calma e da coragem para poder
segurar-lhes as mãos.
Os exercícios físicos me estressam ou cansam;
os da alma me ensinam o inensinável:
humildade.
Pedir perdão, verbalizando, só para agradar e deixar o outro feliz
porque ganhou uma batalha
mesmo aparente
não me interessa mais.
As
minhas descobertas são novas para mim,
mas é provável
que
o homem ou a mulher da cavernajá as tinham feito também.
Muitos
pensam que sabem muito o que sabem
assim como eu,
mas
a sabedoria que dá o saber de si mesmoé a que amplia por dentro.
Foi
duro ver que muitos dão o que não têm para si:
amor
companhia
paz!
Descobri
que sou tão fraca quanto os que bradam que não o são...
mas
num canto escondido roem as unhasse roem na solidão.
Descobri
que a cada dia sou outra porque cada dia
em
suas particularidadesé um divisor de ciclos.
Todos gostam de mágica. Os que dizem não gostar
a querem tanto que mentem
só pra manterem os pés no chão.
Quanto a mim, quanto mais levito mais a mágica acontece porque existe
de verdade:
a minha!
Descobri que qualquer dependência é dependência
desde a dependência do outro até o creme dental ou,
quiçá,
a marca do papel higiênico.
Sou valente, a coragem me possui
– nos possuímos –
quando posso admitir que também
dependo
dependo!
Descobri que somos todos muito ocupados
- quando queremos -
ou quando precisamos dizer que somos
- mesmo sem sermos -
Todos tocamos qualquer instrumento, mesmo quando,
em verdade, nada tocamos... e tudo é música
a que nominamos
porque é nossa.
Descobri que detesto meus grossos braços
mas os uso a todo instante porque
abraço abraço abraço
porque
sou feita de mais do que braços, por isso linda e linda...
e há gente que ainda
nem descobriu que tem braços.
Neuzamaria
Kerner
Voo Azul: Ave Cristo-Birigui-Araçatuba-Campinas-Vitória
23/06/2012
Um comentário:
O poema transparece toda a beleza, a emoção e a vivacidade do caminho do autodescobrimento: "descobri que sou mestra de mim mesma". Parabéns pela sua grande jornada em direção ao mais belo que existe: a essência do eu interior ou Deus em nós.
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