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quinta-feira, 19 de maio de 2011

O LIVRO DA HELOÍSA RAMOS, O MEC E ADONIRAN BARBOSA

Os preconceitos, quaisquer que sejam, são sempre maléficos para a sociedade porque resultam em injustiças. Um dos problemas que nós, seres humanos atentos à boa convivência, temos é a dificuldade de entender para respeitar as diferenças e as circunstâncias de cada um. Esse respeito não pode ser imposto por nenhuma lei porque isso promoveria mais desigualdades, menos tolerância, mais hipocrisia e, consequentemente, mais violência. A história nos mostra tristes exemplos resultantes das imposições.

Na minha postagem anterior quando, no texto inteirinho, utilizei a norma não padrão da língua portuguesa foi para demonstrar o meu desagrado, num tom satírico, não exatamente sobre o livro da Heloísa Ramos – que ainda não li para entender melhor a intenção da autora. Abordei outros assuntos que a imprensa vem informando – o jeito como informa – e que passam despercebidos pelo leitor “desligado”. A intenção foi demonstrar como o preconceito acontece e não nos damos conta.

Quando saio do mato e venho para esta “selva”, tomo conhecimento do que anda rolando entre as pedras e, algumas vezes, me sinto motivada para escrever do jeito que sei e sinto do que me vem do mundo exterior. Agora estou motivada pelo que se tem divulgado a respeito do livro Por uma Vida Melhor, aprovado pelo MEC, no qual a autora desconsidera as regras da gramática normativa. Dizem os que leram.

De imediato lembro-me dos tempos que lia Noam Chomsky que dizia ser a linguagem instintiva e de como era complexo o sistema cognitivo na ciência da linguagem. Mas ele é linguista e não gramático. Em outros momentos passei pelos livros A Língua de Eulália, O Preconceito Linguístico e também Dramática da Língua Portuguesa do professor Marcos Bagno.

Como não estou defendendo nenhuma tese de doutorado neste espaço, não vou ficar aqui de bla-bla-bla falando de teóricos e teorias. Meu caso mesmo é o preconceito. É a forma como nos colocamos diante de algumas situações, de como o outro é e como age. Há, entretanto, a outra face do preconceito quando nos faz compreender o seu lado benéfico: o preventivo que mostra como somos inconsequentes ou ingênuos ao considerar que a igualdade deve ser absoluta.

Quero acreditar que a autora teve a intenção de mostrar as variantes linguísticas; que a língua é dinâmica; que é feita pelo falante, daí as inovações, os empréstimos, os neologismos; que os alunos devem reconhecer a língua popular, mas entender que dentro de situações como um vestibular, outros concursos, etc, a norma culta é a que é aceita. Eu mesma nunca soube que as universidades ou o próprio MEC – nas redações do ENEM – aceitem a utilização de nóis foi / nóis é jeca, mais é pode de rico e por aí vai... No entanto se a intenção foi a atender determinadas ideologias, aí o buraco é mais embaixo.

Meu amigo (adoro me exibir) Affonso Romano de Sant’Anna me escreveu dizendo sobre o meu texto: “A coisa é mais complicada e diferente do que diz a imprensa”.

http://www.affonsoromano.com.br/blog)

Bom, então para os professores que dormem agarrados às regras gramaticais, o assunto é grave. Saber lidar com o novo é abandonar os tais preconceitos de que venho falando. Não sou lá muito gramatiqueira, mas também não aceito – em determinadas situações – a bagunça generalizada. Discriminar é pavoroso; ser preconceituoso em qualquer aspecto, é retroceder e separar. Isso é mais pavoroso ainda.

Clarice Lispector escreveu Água Viva e não usou pontuação explícita, porém não deixou de ser a nossa Clarice. Saramago idem. Convenhamos que arte é uma outra situação.

Agora volto pro mato porque Adoniran Barbosa está cantando pra gente ouvir (leiam a letra).

O Arnesto nos convidô prum samba, ele mora no Brás
Nóis fumo e não encontremos ninguém
Nóis vortemo cuma baita duma reiva
Da outra veiz nóis num vai mais
Nóis não semos tatu!
O Arnesto nos convidô prum samba, ele mora no Brás
Nóis fumo e não encontremos ninguém
Nóis vortemo cuma baita duma reiva
Da outra veiz nóis num vai mais
Outro dia encontremo com o Arnesto
Que pidiu descurpa mais nóis não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nóis não se importa
Mais você devia ter ponhado um recado na porta
Anssim: "Ói, turma, num deu prá esperá
A vez que isso num tem importância, num faz má
Depois que nóis vai, depois que nóis vorta
Assinado em cruz porque não sei escrever Arnesto"

15 comentários:

ANTONIO NAHUD disse...

O blog está uma delícia, amiga. Vou ler tudo tim-tim por tim-tim.
Beijos

O Falcão Maltês

TÂNIA SUZART ARTS disse...

É isto aí, Neuzamaria.
Temos que nos adaptar, adeguar e até concordar com as mudanças do mundo moderno.
Adoniran Barbosa já estava no clima das variantes linguísticas quando escreveu "Samba do Ernesto".
Dá uma olhadinha em www.taniasuzart.blogspot.com, tenho algumas postágens novas.
Deve ter alguns erros gramaticais, porque, sou moderna. Rs.rs.rs.
Beijos!

Anônimo disse...

"no qual a autora desconsidera as regras da gramática normativa."
O livro, na verdade, é todo escrito na norma padrão da língua. O capítulo em questão tece explicações sobre a concordância na norma padrão e a concordância na norma popular, ressaltando que ambas estão corretas, mas devem ser utilizadas cada qual no contexto adequado - formal ou informal. Isso não é novidade em nenhum livro didático de LP que conheço, nem para Bagno, Marcuschi (pai e filha), Lívia Suassuna, J. W. Geraldi, Magda Soares, Bortoni-Ricardo, blá, blá, blá. O 'rebuliço' todo é porque a mídia está afirmando que 'o homem veio do macaco' (Darwin nunca disse isso, mas a igreja disse que ele disse). Ou seja, a imprensa está afirmando que o livro diz que pode falar de qualquer forma, quando quiser, e a gramática que se exploda. E isso não é verdade.
;)

Anônimo disse...

Neuzamaria,
li as suas crônicas. Acheia-as excelentes. A segunda então, é de morrer de rir. Como você conseguiu escrever tão errado.... desculpe-me não é errado, é foneticamente correto, agora né? A nossa língua e como tudo no Brasil está uma bagunça.....
Bjs e continue brindando-nos com suas excelentes crônicas (ainda tem acento???????)
Penha

Anônimo disse...

NM
Por isto, a questão da Leitura é importantissima, bjs

Anônimo disse...

Tá certa. E acabei de botar o comentario da
Radio Metrópole no blog
Se entrar no Google e botar o home da Heloisa Ramos entrevista, vai ver o que ela disse ao Estadão,bjs

www.affonsoromano.com.br

Anônimo disse...

Neuzamaria,

Como você mesma diz "arte ´outra coisa".
Foi muito interessante colocar O Samba do Arnesto. A línguagem é bem popular, mas nem por isso deixamos de entender e de gostar.
bj
Helô

Malcamsba disse...

"preconceito linguistico"!!!!Faça-me o favor. Vá procurar um emprego e na entrevista diga: "....os livro."
Reflexo da cultura apurada do Lula!

Fabrício Brandão disse...

Neuzamar,

Tenho acompanhado seu blog, sobretudo essa discussão atual e complexa sobre o MEC e os usos deturpados da nossa norma culta. Aff! Nem sei muito o que pensar. Não podemos tolerar o coloquialismo dominando a norma e contaminando negativamente a escrita. E que fique bem claro aqui que não nego ser a língua sujeita a um dinamismo temporal. No entanto, parece haver uma tendência em se relativizar as coisas, como se tudo fosse uma questão de sermos razoáveis com a passagem do tempo e suas necessárias transformações. Hoje, ser bacana é ser razoável com as mudanças, muitas delas impostas sorrateiramente.

Beijos!

Neuzamaria Kerner disse...

Olá, pessoas queridas.

Leio so seus comentários e estou bem atenta sobre as opiniões a respeito do livro da Heloísa (MEC).

Tenho uma forma de pensar sobre a questão do uso da língua portuguesa, mas juro que vou arranjar o livro para opinar com mais propriedade.

O professor Xavier não concluiu o meu pensamento. Depois da frase que ele postou, extraída do meu texto, há mais uma coisinha a considerar: após o ponto escrevi DIZEM OS QUE LERAM.

Malcamsba, quando eu for ser entrevistada prometo não dizer "os livro" rsrs

No entanto essa discussão deve ir adiante em todos os blogs, sites e outros meios de comunicação porque a situação está feia nas escolas. Começo a pensar que há uma conspiração contra o nosso idioma.

a UNB já se pronunciou dizendo que haverá L.P em todos os cursos, admitindo a precariedade dos conhecimentos gramaticais dos estudantes.

Enfim, obrigada por lerem e comentarem. Brevemente postarei outro texto ainda sobre o assunto da hora.

Abraços

Juro

Anônimo disse...

Seu texto sobre o livro aprovado pelo MEC me pareceu cheio de pontos positivos, mas gostaria apenas de entender uma coisa : se todas as pessoas falam corretamente em qualquer situação (formal ou informal) as noções de adequado e inadequado não têm razão de ser, não ?
A canção do Adoniran é um bom exemplo a ser utilizado nas salas de aula, não é preciso então que nos livros didáticos do MEC tais exemplos existam. Para poder brincar com a língua, criar com a língua e "Por uma vida melhor"tudo é mais fácil e rico quando conhecemos bem a língua. Não imagino a Clarice Lispector dizendo "nois empresta os livro" ou Guimarães Rosa numa conversa informal dizer "os menino pega os peixe". Saudações saudosas de uma brasileira exilada em outro país e sobretudo em outras línguas. Obrigada.

Neuzamaria Kerner disse...

Obrigada por ter lido o meu texto e comentado sobre um assunto tão polêmico ultimamente.

Brevemente escreverei sobre a nossa língua, falando sobre um dos meus ídolos, PATATIVA DO ASSARÉ.

Então, minha amiga, não se sinta tão exilada porque esse mundo virtual nos aproxima e nos deixa bem universais.

Abraço

Anônimo disse...

Adorei o post, você escreve muito bem!

Kirmá Mota disse...

Neuzamaria olha o texto de um e-mail que recebi agora pela manhã.

"Aqui­ vão alguns dados que foram difundidos hoje pela manhã pelo Boechat no programa da CBN.
O famigerado livro que foi escrito por HELOISA RAMOS e que nos "ensina" a maneira correta de falar o portuguesa, foi vendido para o MEC pela quantia de R$ 5.000.000,00 ( cinco milhões de reais ) pela ONG Ação Educativa e a autora do livro recebeu nada mais nada menos que R$ 700 000,00 ( setecentos mil reais ).
Este livro foi feito no desgoverno do lula e, provavelmente, com a finalidade de justificar a maneira corretíssima como o mandatário desta pobre nação se expressava.
Consta que nem o Paulo Coelho nunca recebeu tanto dinheiro pela venda de um livro !!!!!
De quem será esta ONG ?"

O que há de verdade nele?
Adorei teu blog.
Um abraço.
Kirmá.

Neuzamaria Kerner disse...

Kirmá,

Estes assuntos ainda vão dar muito o que falar. Não ouvi o Boechat na CBN, mas estou tomando conhecimento agora através de você. Tomara que ele esteja enganado para que o país não fique mais enxovalhado do que já está e nós não morramos de vergonha.

Obrigada pela sua leitura e comentário.

Abraço