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domingo, 5 de abril de 2015

O LIVRO COM RESENHA








NAS SUBLIMES PARAGENS DA EVAS

O Livro-Arbítrio das Evas: dentro de fora do Jardim, em seus primeiros quinze poemas que abrem o livro, traz uma reflexão sobre o aparente silêncio  de algumas figuras femininas da Bíblia, escolhidas como as preferidas pela poetisa Neuzamaria Kerner. A literatura feita em versos muito pouco trata desse assunto. Quem seriam aquelas mulheres que viveram num tempo tão distante de nós, mulheres do século XXI? O que pensavam? Como agiam e quais suas motivações para o comportamento que tiveram mesmo a elas sendo podada a palavra? Quais os seus verdadeiros anseios da alma? Assim a autora dá voz a Lilith (figura mitológica), Eva (figura aceita como a primeira mulher), Raquel, Dalila, Irit (o nome da mulher de Lot), entre outras, todas Evas!

Para essas perguntas a autora do livro vai encontrando explicações e expondo suas ideias numa poesia forte, lúcida e, por vezes, irreverente. Na medida em que as mulheres vão “falando” um sentido de vida vai sendo construído para aquelas num mundo onde o poder masculino imperava. Enquanto escreve, Neuzamaria busca sentidos para a sua própria atuação no mundo, ampliando para as mulheres do nosso tempo o sentido de restaurar a essência de cada uma. A sua unidade primeira.

É preciso dizer, no entanto, que O Livro-Arbítrio das Evas não é um livro religioso. Muito pelo contrário. É um livro que profana as coisas sagradas, mas sem desrespeitá-las. Instiga a imaginação do leitor. A fala de Raquel comprova a irreverência apontada neste texto. Essa Eva, ao se sentir injustiçada pelo pai – Labão - que dera Lia em casamento a Jacó, nos diz:
(...) inventei esperas para sobreviver.
Então, numa noite
enquanto a lua espalhava claridade pela terra
derramei mandrágoras sobre o meu ventre
e fui fértil como as tentações da noite
por duas vezes.(...)
Muitos poemas percorrem as 222 páginas do livro que nasceu inspirado na vida de todos nós – homes e mulheres - com todas as suas circunstâncias: amor, inquietação, alegrias, tristezas, desilusões, mas sem perder a consciência da alma feminina que habita no universo (incluindo os “Adãos”), no que se refere ao encontro do corpo e do espírito, essa parte eterna que vive em nós todos aqui e além da terra. 

A autora reverencia o poeta Miguel Marvilla, versando sobre o poema Dédalo; homenageia Vitória, cidade que escolheu para viver, dizendo das pedras que emergem do mar e as comparando com favos fálicos de onde escorre o mel como alimento; expõe os medos nossos (e escondidos) de cada dia no poema  Algumas irrelevantes descobertas ao falar que mesmo os homens fortes e musculosos tremem dentro das turbulências dos voos.

O livro, publicado pela EDITUS, Editora da Universidade Estadual de Santa Cruz (BA, 2014) e prefaciado pelo contista Hélio Pólvora, é muito interessante e cheio das espontaneidades da autora que não abre mão do prazer de compartilhar o planeta Terra com mais 7 bilhões de viajantes e escrever a respeito dessa fantástica viagem. Não abre mão do real dever de cada artista salvar o sonho porque se lhe tiram esse dever, o condenam à morte. No dizer do prefaciador as Evas tecem. Tiraram-lhes, como a nós todos, quase tudo, neste mundo que tanto nos assombra, mas restou pequena reserva secreta de livro-arbítrio.

            Fabrício Brandão*
*nasceu em Ilhéus, Bahia, e é editor da Revista de Literatura e Artes Diversos Afins (www.diversosafins.com.br). Formado em Comunicação Social pela UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), arrisca-se no terreno da poesia e da prosa. Integrou a coletânea Diálogos – Novo Panorama da Poesia Grapiúna (Ed. Via Litterarum/Editus – 2010 – 2ª edição).



Neuzamaria Kerner, baiana de Salvador e vive em Vitória (ES), é professora e escritora. Tem publicados os livros: “Fragmentos de Cristal”, “Eu Bebi a Lua”, “A Presença do Mar na Prosa Grapiúna”, entre outras publicações em revistas literárias. Seu mais recente rebento poético é “O Livro-Arbítrio das Evas – Dentro e Fora do Jardim” (Ed. Editus – 2014).

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