ESCREVIVENDO impressões... do que vivo, do que vejo, do que leio, do que toco, do que sinto!
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
terça-feira, 16 de setembro de 2014
O MUNDO AINDA TEM JEITO: CORAL MARIA PENEDO (IFES – VITÓRIA)
Há muitos anos, em Ilhéus
(BA) participei de uma reunião com pessoas dedicadas a construir um mundo
melhor para si e para as futuras gerações. Eram pessoas sábias que, como muitas
outras, já haviam descoberto o segredo da vida. O segredo do bem viver!
À época a imprensa divulgara
uma notícia pavorosa sobre a violência gerada pela eugenia. Não vale a pena
relatar porque esse tipo de notícia, nos dias de hoje, vem circulando mais
intensamente pela mídia e todos nós sabemos o que o preconceito, seja lá de que
tipo for, pode provocar.
Então, eu estava tão chocada
com a notícia que disparei com um desabafo: O mundo não tem mais jeito! No
círculo os presentes na reunião sentiram a gravidade do que eu havia dito – e como havia dito - silenciaram por um
bom tempo. Alguns mantinham os olhos fechados; outros me olhavam com a piedade
generosa dos bons. Minutos depois um deles me perguntou:
Neuzamaria, você acha que ainda
tem jeito? Eu, com minha forma rápida e estabanada de responder sem pensar, e
metida a “tudóloga”, disse: Claro que sim! E continuei justificando a minha
resposta cheia de certezas e verdades e experiências e vaidades e orgulhos...
Aí aconteceu uma coisa
interessante que eu não esperava. Um dos participantes acrescentou à minha
fala: eu também ainda tenho jeito;
outro acrescentou a mesma coisa; outro e mais outro. Uma pessoa disse: Então, todos aqui achamos que ainda
temos jeito e é por isso que o mundo ainda tem jeito.
Essa introdução toda é
porque, na verdade, não sei falar pouco. Sou muito explicativa... Talvez por “defeito”
da profissão. A história da reunião que relatei acima é porque assisti ontem,
dia 15/09/14, à apresentação de corais (9º
ENCORIFES), do Espírito Santo que aconteceu no IFES (campus de Vitória). A
abertura foi feita por corais de estudantes jovens. Todos eles empenhados em
dar o melhor de si para o enriquecimento do evento. Todos eles, mesmo com as
extensas atividades escolares, encontraram tempo para promoverem o musical Estradas
do Rock, num esforço muito grande para ajudarem-se mutuamente a fim de
que pudessem apresentar um espetáculo que não deixa a desejar diante de espetáculos
promovidos por grandes produtores.
O pequeno vídeo abaixo,
metáfora que utilizo aqui, para dizer do encanto juvenil que comprovou que trabalhando
juntos, todos podem crescer juntos, principalmente na arte de criar, cantar e
encantar para sobreviver num mundo, um tanto conturbado, mas onde habitam
pessoas que fazem a diferença. Onde o alimento pode ser também a arte musical servida
às colheradas para o alimento da alma e onde ninguém pode se alimentar sozinho.
www.youtube.com/watch?v=qhU5JEd-XRo
É preciso que acreditemos
que melhorar o mundo é possibilitar que todos se tornem melhores, mesmo sendo
diferentes em suas “des-igualdades” humanas. Melhorar o mundo significa que
devemos repartir a beleza da arte que todos carregamos dentro de nós (mesmo que
não possamos temporariamente expressá-la). Melhorar o mundo é o exercício
permanente de primeiro transformar o nosso mundo interior para mudar o exterior
que também pertence a todos. Na arte não existe preconceito nem separação e é
por isso que temos um caminho para acreditarmos que o mundo pode ter jeito. O
mundo somos nós que agimos no bem porque sabemos que nós ainda temos jeito.
O Coral Maria Penedo, regido pela dedicação do maestro Heraldo filho,
é composto por jovens que acreditam nesse mundo melhor – vídeo abaixo. Jovens
que ajudam a levar felicidade através da música, a apontam caminhos mais suaves
para todos, promovendo o aperfeiçoamento pessoal e mostrando que boas atitudes refletirão
em mudanças positivas que se expandirão pelo mundo afora.
O mundo ainda tem jeito,
sim!
Neuzamaria Kerner
16/09/2014
quarta-feira, 9 de abril de 2014
“...DESAFIA O NOSSO PEITO A PRÓPRIA MORTE...”
Aguentem, por caridade: os
prolegômenos são extensos, parte do meu defeito na escrita. Este texto é
dedicado a Eliana, que me deu a notícia; a Ritinha Santana, que é escritora baiana
como Gregório de Matos; a Ana Rita, professora e doutora que socializará com
seus alunos; a Isabela, que deu uma ideia genial; a todos as defensoras e defensores
do direito aos seios; a todas que perderam os seios ou até a vida.
Há bastante tempo que não
compareço a este espaço que eu mesma criei para expressar sentimentos. Chamei-o
de ESCREVIVENDO, posto que, enquanto vivo, escrevo impressões deste mundo onde
vivo, do que nele vejo, do que nele leio, em tudo que toco e sinto. Deveria
comparecer mais neste blog porque escrever é como respirar; ou deveria também
comparecer no outro blog, Jornada Existencial onde, quase que com ferro e fogo,
digo que estou aqui para consertar os próprios equívocos a fim de poder seguir
em paz. Não posso consertar os equívocos alheios, portanto sempre procuro me
concentrar nos meus que já são muitos.
Em verdade, comparecer para
se expressar é um ato político no seu mais amplo significado. Pouco tem a ver
com política partidária e eu, como ser vivente e pensante, não deveria me
omitir tanto afinal de contas vivo em comunidade e desejo o bem, igualmente,
para todos nós. De qualquer forma neste momento preciso respirar, escrevendo...
pois que estou vivendo um período de horizontalidade por causa de um pequeno
acidente doméstico que me levou a uma cirurgia no joelho. Já que não posso
ficar na vertical, andando, estou aqui pensando na horizontal, mas sem perder
de vista os horizontes tão necessários para que continue caminhando para
alcançá-los.
Viver no mato é bom porque
lá se respira e se vive melhor, mas quando temos que reentrar na urbe sentimos
que é o lugar da apuração dos ouvidos para outros “ouvires” e as devidas
interações comunitárias. Porém, de certa forma, viver um tanto quanto isolado
no paraíso nosso de cada dia, é um jeito de ser poupado de certos descaramentos
promovidos por aqueles que nos governam. Viver no mato pode até ser alienante,
mas os passarinhos e outros animais, as águas, as árvores, se portam com uma
harmonia invejável e talvez até desconhecida por muitos. Não são descarados.
Não mentem descaradamente,
como diz o poeta Affonso Romano.
Então, na urbe, recebi a ligação de uma amiga
me dizendo, às gargalhadas – de deboche, é claro! – que o povo do feudo
condenou à morte por meio do câncer – num decreto feudal, ou édito real – mulheres que não terão mais
direito à mamografia nas duas mamas. Certamente, muito em breve, as
obrigarão a extirpar um peito a fim de que percam o peito gêmeo, para o bem da economia
governamental - Portaria 1.253, publicada pelo Ministério da Saúde que
corta o dinheiro da União e nosso destinado aos Estados e Municípios
para financiar mamografias feitas em mulheres com idade entre 50 e 69 anos pelo
SUS (Sistema Único de Saúde). Confiram nos oráculos da internet.
O que pode me alegrar nesta notícia é que o
Brasil (país das estranhezas) tem uma governante MULHER e, provavelmente, ela,
com toda a generosidade que lhe é peculiar, bem que poderia ter a ideia de ser
a primeira a se oferecer como voluntária para ter um peito arrancado para
servir de inspiração a todas as suas governadas. Ter um só peito é mais barato
para os “tudólogos” (palavra que ouvi do ilustre professor Ruy do Carmo
Póvoas). O que me entristece, no entanto, na nova porcaria - digo portaria -, é
que fere um direito já garantido à maioria das mulheres do mundo, de prevenir o
câncer - também de mamas - já que no projeto divino da construção feminina todas
foram criadas com dois peitos. É um direito adquirido prevenir doenças no
sagrado corpo, além de termos tecnologia avançada para isso. Afinal temos
dinheiro para construir estádios e outras bobagens que em nada mudam a vida do
mundo.
Nossos picos lácteos são tão
importantes e belos!... Desde sempre vêm alimentando os “re-nascidos”. Desde
sempre alimentam as fantasias masculinas e femininas... Agora estão condenados.
Que pena!
Comentando sobre o assunto
com outro amigo, ele começou a cantar uma música da inesquecível Clara Nunes:
(...)
era um peito só / cheio de promessas / Era um peito só / cheio de promessas... (Conto
de areia – Álbum Raízes do Samba). Embora a cantora expusesse sua fala num
outro contexto, fica valendo esse trecho como uma profecia apocalíptica. Dei
uma gargalhada com a fala do amigo – e até meu joelho magoado esqueceu a dor e
também riu.
Como amante do
baiano-soteropolitano, Gregório, o Boca do Inferno, que já pelos idos do século
XVII, retado da vida, falava de coisas que só o diabo não duvidava, retrocedi a
memória e me lembrei de algumas de suas sardônicas falas nos barrocos poemas:
EPÍLOGOS
A
Câmara não acode?... Não pode.
Não
tem todo poder?... Não quer.
É
que o governo a convence?... Não vence.
Quem
haverá que tal pense
Que
uma Câmara tão nobre
Por
ver-se mísera e pobre,
Não
pode, não quer, não vence.
(...)
De
dous ff se compõe
Esta
cidade a meu ver
Um
furtar, outro foder (nos peitos alheios)
Gregório de Matos continua
se insinuando na minha mente e me tomando inteira em SONETO:
A cada canto um grande
conselheiro,
que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.
que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.
Esse Boca do Inferno é
insistente, mas preciso me valer dele para dizer o que sinto porque ele, quase
4 séculos passados, continua atualíssimo: À CIDADE DA BAHIA (que bem pode ser o BRASIL)
Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Começo
a encerrar esse texto porque se alguém estiver lendo, já deve estar de peito
cheio e cansado. Todavia ainda tenho que lembrar a Rainha de Copas que mandava
cortar as cabeças... Agora se corta o recurso financeiro (quem se lembra de
Alice no País das Maravilhas?) para que possamos manter o direito a ter os dois
peitos sadios. Não somos amazonas (quem se lembra das guerreiras lendárias que
arrancavam os peitos para lutarem o bom combate?). As sauditas tinham a
genitália circuncidada para não sentirem prazer sexual (ainda é assim, gente?).
Quando
estava no meio deste texto inconfidente, minha sobrinha (Isabela K. M.),
perguntou-me sobre o que eu estava escrevendo. Expliquei-lhe rapidamente o complexo
assunto de forma a caber na sua cabecinha de apenas 10 anos. Ela me olhou meio
que assombrada e indignada, cobrindo seus seios nascentes. Achei graça e
perguntei-lhe se havia entendido e o que poderíamos fazer. Ouvi sua voz sábia e
suave:
-
com o peito que sobrar a gente peita!
Ó
pátria amada,
Idolatrada,
Salve!
Salve!
Neuzamaria Kerner
09/04/2014
domingo, 16 de março de 2014
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