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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PROMESSA DE PALAVRA



Que a minha palavra
não seja mais espada cortante.

Que seja ela a agulha e a linha
que tecem  o bem em cada tecido
de cada pétala de flor
e que remendam o que foi esgarçado pelos tempos.

Que seja a minha palavra, doravante,
a mão que aponte o horizonte da boa fortuna,
a cola que una fortemente
todo ser a cada ser;
que prove que todo amanhecer
é uma flor que se abre
e sabe, como qualquer rosa,
ser generosa em alegrias;
que seja semente em festa
quando emancipa a flor do botão;
que seja cantiga de flauta
fiel som de toda canção;
que seja ela apaziguada e eflorescente
pela força da nova semente
a brotar flores nos canteiros da fala.

Que seja a promessa desabrochada.

Que seja a ponte ligante ao verbo amar.

Que seja sempre a flor anunciada:

         em cada palavra dita
         em cada palavra escrita
         em cada palavra dada.

(Neuzamaria Kerner 24/11/2011)

Sempre que volto do mato para espiar um mundo diferente daquele que vive em mim, às vezes encontro algo belo no ar. Hoje encontrei flores se abrindo. Muitas flores.
Anna Amélia Marback, uma grande amiga, pessoa especialíssima, me enviou este vídeo que vale a pena ser visto direto no site informado porque a tela fica grande. Ela me enviou flores porque sabe como gosto delas. Tenho muita sorte por conhecer pessoas como Anna Amélia! Enquanto ia assistindo, palavras iam desabrochando na minha mente e fui rápida com o lápis para não perder nada. 
As palavras que emitimos em todas as horas, no meu modo besta de ver a vida, devem ser como as flores do vídeo: promessas de amor. A palavra deve ser sempre ponte que nos une ao mundo e às pessoas todas. Tropeço nas palavras e quando fico derrubada - uso a força que elas têm e as faço espadas. Mas escrevi a promessa em forma de versos e espero poder cumprir porque toda palavra dada tem que ser inteira, pura e amorosa.



domingo, 9 de outubro de 2011

ELI, O OUTRO

Ainda me é impossível parar de escrever sobre Eli. Nesse momento, no entanto, não se trata exatamente do personagem do filme - postagem de 25 de abril -, mas o Ser amado de Hannah Senesh e de quem lembra em seus quase últimos momentos de vida. Ela homenageia outro Eli, quando escreveu um poema em seu diário - musicado tempos depois.
Eis o poema, cantado no CD The Very Best of Israel. A tradução foi encontrada no site  http://www.webjudaica.com.br/index.jsp















Eli, Eli / Meu Deus, Meu Deus
Shelo yigamer le'olam / Que não se acabe nunca
Hachol ve'hayam / A areia do mar
Rishrush shel hama'yin / O movimento das águas
Berak hashama' yim / O brilho do céu
Tfilat ha'adam / A reza do homem.


Mesmo sabendo que a hora da morte se avizinhava, Hannah não abandonou o sentimento de amor por Eli (D-us), confiando que Ele providenciaria a permanência das coisas que ela admirava e que foram criadas nesta vida, conforme suas palavras no poema. Nessa canção alguns tradutores acrescentam no final: A voz chamou e eu fui / Eu fui porque a voz chamou. Nessa hora eu tenho que pensar de novo no filme O Livro de Eli, quando ele diz da voz que ouvira, dando-lhe instruções.


Hannah Senesh, filha de famoso jornalista e dramaturgo húngaro, desde cedo demonstrou inclinações para a arte da leitura e da escrita e, ainda criança, já começava o seu processo de "imortalização" por meio dos seus poemas. Era possuidora de uma imensa capacidade de encantar a todos com sua inteligência comunicativa, sua postura humanista, habilidade de discursar, transformar colegas em amigos e conservá-los . Sabia amar.


Na adolescência sentiu que o fogo do desejo de lutar em defesa dos seus pares de origem judaica lhe dava mais sentido à vida, bem como a consciência do que teria de enfrentar para defender-se e a seu povo. As questões políticas começavam a perturbar a vida na Europa lá pelos idos 1930, principalmente com a chegada de Hitler ao poder, em 1933, como Chanceler da Alemanha. Hannah, então, identifica-se com o movimento sionista, mas, "sem perder a ternura", luta e escreve poemas firmando, de vez, a sua posição no mundo.

Escondida com outros guerrilheiros, numa floresta, escreveu um de seus mais famosos poemas, Blessed is the Match: "Bendito é o jogo consumido em arder fogo / Bendita seja a chama que arde em segredo no coração / Abençoado seja o coração com força para parar de bater por causa de sua honra / Bendito seja o jogo consumido em acender fogo". Por esse poema ela foi homenageada com o documentário Blessed is the Match: The Life and Death of Hannah Senesh (Bendito é o jogo: Vida e Morte de Hannah Senesh) - EUA, 2008.
Após a sua execução, 07 de novembro de 1944, em seu diário foi encontrado escrito: "... eu joguei o que mais importava / os dados foram lançados / eu perdi." Hannah, no entanto, nada perdeu porque na vida nada se perde. Os aprendizados são os ganhos. Quem ensina o valor que os sonhos têm, vence. Ela se fez heroína porque, inclusive, venceu o medo da vida e da morte. Portanto, só há ganhos, mesmo no equívoco das perdas. Hannah sabia disso e imortalizou-se ao ser a antena literária que captou, enquanto esteve por aqui, a alma e o sonho do seu povo.

O amor a Eli, O Outro, foi a sua inspiração, a sua coragem. O Pe. Antonio Vieira disse que o livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. Cada verso que Hannah Senesh escreveu é um mundo de palavras - mudas para alguns - que cantam nos meus ouvidos sobre o sonho possível. É o verso guia e sempre vivo, vivendo comigo. De vem em sempre!





























quarta-feira, 5 de outubro de 2011

CHICO E O MENINO

(Ilustração UESC)
Ontem foi - ou todos os dias é? - dia de São Francisco de Assis. Aquele mesmo que falava com os animais. Aquele mesmo que já era santo antes mesmo de sê-lo. Aquele mesmo que - conta-se - ficou nu na praça como gesto de renúncia aos bens materiais (depois de ter desfrutado esses prazeres) e  vivido na esbórnia com os amigos. Era doidinho, esse camarada! "Louco de Deus".

Por isso, a inesquecível professora, colega, amiga, poeta e também santa, Valdelice Pinheiro, escreveu:

Devagarinho,
no silêncio de uma noite
em plena lua,
moveu os pés,
estirou os braços,
inventou uns poucos trapos
na sacola azul,
disse até logo
a Papai do Céu
e, como um menino,
a mão esquerda
puxando a mão direita
do Menino Jesus,
fugiram, os dois,
da tristeza imóvel dos altares.
Na rua,
partindo o silêncio
dessa noite em plena lua,
cantaram e dançaram
a Liberdade na Alegria
e, felizes,
tocaram fogo na cruz.

Valdelice Pinheiro está com Francisco e o Menino fujão desde 29/08/1993.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

SAUDADES DE MIGUEL MARVILLA

Meus alunos são e serão sempre meus professores, por isso acredito que a educação só acontece quando há a troca: todos somos mestres e aprendizes ao mesmo tempo.

Na medida em que vou apontando um caminho meus alunos vão me apontando outros e aí acontece o maravilhamento. Assim aconteceu quando um aluno me apresentou a Miguel Marvilla. Ele era profundo admirador do poeta e me contagiou automaticamente. Me presenteou com o livro "Dédalo". Paixão imediata ao lê-lo e senti-lo em sua força poética. Marvilla passou a ser mais um dos meus amores. Já falei antes - outras postagens - que tenho muitos amores e paixões, todas confessáveis.

Abro o jornal e vejo um texto da querida profª. Ester Abreu Vieira de Oliveira, falando do nosso poeta. Meu coração saltador, teve que ser contido rapidamente para que minha alma não corresse para outros mundos a fim de rever Miguel, meu arcanjo da poesia. Entro no site  
 http://www.tertuliacapixaba.com.br/arquivo/andreia_delmaschio_miguel_marvilla.htm  e leio Enfim, o precipício, belo texto de Andréia Delmaschio, sobre o livro "Dédalo"
 
 Como esse meu texto não é resenha, mas homenagem, declaração de amor e saudade, posto aqui o poema que escrevi em 2006 para Miguel:


CONVERSA COM O “DÉDALO” DE MARVILLA
                                                                                 
Tu mesmo criaste o labirinto perdedeiro
onde preso em silêncios ficaste só
quando tudo parecia perdido.

Não queiras morrer, Dédalo,
sem lembrares a palavra esquecida

(peça faltante para asas voadoras).

Queres fugir para o futuro
mesmo sabendo que teu instante
é agora e aqui.

Colhe o vínculo, sem medo,
que a vida te oferece no hoje
e te manterás nela
em lembramentos de amor
que te farão presente e eterno...

Assim
não te sentirás atado
em teias frágeis
por teres o fio condutor

                        (dado a ti para voares solar).

Não te dês por vencido
porque em teu destino és tu o vencedor.

Se quiseres render-te
faze somente ao Amor
livradeiro dos teus precipícios interiores
dos teus inventos  que sempre trouxeram
dissabores, perseguições, fantasmas mal-criados...

Dédalo
sou o Fio
caminho certeiro
asa que não derrete

                        (nem se acovarda diante do sol).

Vem, confia, desvicia e fica
por fim...
porque sem ti, peregrino,
ficarei também sem mim.

Neuzamaria Kerner 
06/10/2006